Sugestão de hoje!!!

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Livro que trata do menor abandonado e de sua luta pela sobrevivência.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

1ª GERAÇÃO ROMÂNTICA: ANTÔNIO GONÇALVES DIAS (1823 - 1864)

Nascido no Maranhão a 10 de agosto de 1823, Gonçalves Dias orgulhava-se de trazer em suas veias o sangue das três raças que formaram a etnia brasileira: era filho de um comerciante português branco e de uma cafuza (mestiça de negro e índio). Adolescente, seguiu para Portugal, onde concluiu os estudos secundários e formou-se em Direito na Universidade de Coimbra. Em seu exílio voluntário teve oportunidade de ler os clássicos europeus, principalmente os portugueses.

Voltou ao Brasil em 1845, onde rapidamente distinguiu-se entre as personalidades de seu tempo, chegando a obter proteção de D. Pedro II. Aos 23 anos apaixonou-se por uma menina de 14 anos, Ana Amélia Ferreira do Vale. Apesar de ser correspondido por ela, teve sua mão recusada pelo pai da moça, que não via com bons olhos a união dos dois (racismo). Gonçalves Dias acabou casando-se com aos 29 anos com D. Olímpia Coriolana da Costa, moça pertencente a uma boa família do Rio de Janeiro. Seus melhores versos amorosos foram, entretanto, inspirados pela menina Ana Amélia alguns deles absolutamente antológicos.
Além de escritor, foi professor de Latim e de História do Brasil no Colégio Pedro II, viajou com patrocínio para fazer vários estudos, entre eles uma viagem à Amazônia, onde pesquisou Linguística e Etnografia (estudo e descrição das manifestações dos povos – língua, costume, religião etc.). Esteve em Portugal em diversas ocasiões, totalizando catorze anos de estadia naquele país. Na volta de uma viagem que fizera a Portugal para cuidar de sua saúde já fragilizada pela tuberculose, o navio em que estava, o Ville de Bougne naufragou. Era o dia 3 de novembro de 1864, cerca de três meses depois que o poeta completara 41 anos.

O PRIMEIRO GRANDE POETA TIPICAMENTE BRASILEIRO

Gonçalves Dias foi poeta versátil; destacou-se na poesia lírico-amorosa, assim como na indianista e nacionalista. O decassílabo e o redondilho maior foram os versos que mais usou; quanto à estrofação, empregou preferencialmente quadras, sextilhas (estrofes de seis versos e sete sílabas) e oitavas. Foi um panteísta, associando frequentemente Deus à natureza. Cultivou também o teatro, escrevendo os dramas históricos Beatriz Cenci, Paktull e D. Leonor de Mendonça.

Alguns críticos afirmam que a obra de estreia de Gonçalves Dias, Primeiros Cantos, teria sido a que realmente impulsionou o Romantismo em nosso país e não Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães. Seu poema de abertura, Canção do Exílio, de caráter nacionalista, escrito quando encontrava-se em Portugal, tornou-se uma das obras mais populares de nossa literatura.

A exaltação da pátria, da natureza, da nobreza do nativo foram temas constantes na obra do poeta, que soube trabalhá-los sem jamais cair em lugares comuns ou na pieguice.

O aspecto amoroso é constante em sua obra. A poesia sentimental se desenvolve sob o prisma do sofrimento. O amor em Gonçalves Dias jamais se concretiza na esfera do real, é sempre ilusão perdida, impossibilidade vital de relacionamento. Entre a esperança e a vivência, entre a intenção e o gesto estão os abismos da experiência concreta. E a experiência concreta é o fracasso. “Cismar venturas é só topar friezas”, eis a delimitação desse posicionamento. Apaixonar-se é se predispor para a angústia e para a solidão. O poeta confessa a sua afetividade, suplica a paixão da mulher, e não encontra resposta. Resta-lhe o desespero. Em poemas como Se se morre de amor, Gonçalves Dias consegue dar dignidade a esse sofrimento, o que faz dessa obra o poema mais inspirado de seu lirismo amoroso.

Enquanto poeta da natureza, ele canta o amor, as florestas, a imensa luz do sol brasileiro. Seus poemas sobre elementos naturais, ele próprio os denominou de poesias americanas. Reparemos ainda que os espetáculos da natureza conduzem seu pensamento a Deus, o que implica uma celebração panteísta.

A poesia sobre a natureza entrelaça-se com a poesia saudosista. O poeta maranhense é um homem nostálgico que lembra a infância, os amores idos e vividos e, antes de mais nada, um homem que na Europa sente-se exilado, e é arrastado pela memória até sua terra natal (Canção do exílio ).

Vários foram os poemas indianistas legados pelo autor: Tabira, Marabá, O Canto do Piaga, Canto do Guerreiro, etc. Nenhum deles, porém, se ombreia à obra-prima: Juca-Pirama, cujo título é uma frase em Tupi que significa “aquele que deve morrer”, “aquele que é digno de morrer”. A superioridade do autor maranhense sobre outros criadores indianistas reside no seu maior conhecimento da vida aborígene e no uso poético de um índio ainda não aculturado pelo homem branco.

Além desses poemas indianistas, Gonçalves Dias deixou incompleta uma epopeia Os Timbiras. Era um projeto ambicioso, os índios substituindo os heróis gregos numa Ilíada brasileira, tropicalista, cheia de onças, cascavéis, coatis e abundantes descrições da flora, e cujo pano de fundo era a formação e dispersão do povo timbira. Mas, infelizmente, o fim dessa obra naufragou com o autor.

JUCA-PIRAMA

Juca-Pirama é um poemeto (poema curto) épico escrito em dez cantos curtos, que narram a história de um jovem guerreiro descendente da tribo Tupi. Sua tribo havia sido dizimada pelos brancos e só restavam ele e o pai. Eis que o rapaz cai prisioneiro dos Aimorés, tribo antropófaga. Eles acreditam que, comendo a carne do inimigo, estariam subtraindo a força dos opositores e somando-a a própria.

No momento em que o jovem, já devidamente pintado e paramentado para o ritual de morte, vai ser executado, seus algozes incitam-lhe a falar algo: “Dize-nos tu quem és, teus feitos canta./Ou, se te apraz, defende-te.” A resposta do prisioneiro é o canto IV da obra.


Ao ouvir o discurso do prisioneiro, o chefe aimoré, da tribo Timbira, ordena que soltem o rapaz, alegando que “não queremos/ com carne vil enfraquecer os fortes”. Em vão, o guerreiro tenta dizer que retornará, apenas morra seu velho pai. Tenta ainda desafiar os inimigos a lutarem.

Libertado, vai ter com seu pai. O velho índio, apesar de cego, intui que algo aconteceu. Ao tocar a cabeça do filho, sente que ela está despida do “natural ornato”, e percebe, com horror, que ele havia sido escalpelado, o que significava que ele havia caído prisioneiro. Força o rapaz a falar o que houve, e o jovem lhe diz que fora libertado quando os timbiras souberam da sua existência. Obriga, então, o filho a retornar com ele à tribo inimiga, e, lá pede que o ritual de morte se cumpra. Mas o cacique timbira nega-se a atendê-lo dizendo-lhe que o filho chorou, que era “imbele (covarde) e fraco”, concluiu: “Nós outros, fortes Timbiras,/ Só de heróis fazemos pasto”. Aviltado pelas informações, o velho tupi lança no filho uma maldição, o canto VIII.


Ao ouvir a imprecação paterna, o jovem tupi indigna-se e se atira sobre os inimigos numa luta feroz e solitária, em que pôde, afinal mostrar sua bravura. A peleja só é interrompida quando o chefe dos timbiras brada: “Basta, guerreiro ilustre assaz lutaste”. O jovem, então, cai nos braços do pai, que chora: “Este, sim que é meu filho muito amado! / e pois que o acho enfim, qual sempre o tive/ Corram livres as lágrimas que choro,/ Estas lágrimas sim, que não desonram”.

A técnica poética de Gonçalves Dias contribui para a magia do poema: logo após este acontecimento, ficamos sabendo que tudo aquilo era passado porque no presente havia apenas a recordação do fato por um velho timbira:

Assim o Timbira, coberto de glória,
Guardava a memória
Do moço guerreiro, do velho Tupi.
E à noite nas tabas, se alguém duvidava
Do que ele contava,
Tornava prudente: “Meninos, eu vi!”

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