CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
O estilo conhecido como Barroco
situa-se no período que vai do final do século XVI até meados do século XVIII,
tendo, porém, o seu ponto culminante, de maior esplendor, ao longo do século
XVII.
Dois elementos históricos estão
diretamente ligados ao florescimento desse estilo:
Ø A CONTRA-REFORMA CATÓLICA, um
amplo conjunto de medidas tomadas pela Igreja para fazer frente ao movimento da
Reforma Protestante, liderada por
Lutero e Calvino, entre outros, e que representou uma profunda ameaça à
supremacia católica na Europa e fora dela. Entre aquelas medidas destacam-se a
fundação da Companhia de Jesus (ou
dos jesuítas), com o propósito de difundir mais amplamente a fé cristã e
garantir a autoridade papal, e a restauração da Inquisição ou Santo Ofício,
com o objetivo de coibir o avanço do protestantismo através da censura, da
perseguição e da tortura.
Ø A progressiva implantação do
Estado nacional e a solidificação do ABSOLUTISMO MONÁRQUICO na Europa, levando
à centralização e a um profundo fortalecimento do poder real. O monarca será
visto e defendido, então, como o legítimo representante de Deus na Terra, e sua
autoridade, como sagrada e absoluta.
No Brasil, o Barroco teve um
florescimento mais tardio, sobretudo no século XVIII, coincidindo com a fase do
Ciclo do Ouro, na região das Minas
Gerais.
CARACTERÍSTICAS DA
ARTE BARROCA
No plano estético, o Barroco também
foi consequência da gradual saturação da
arte Renascentista, cultivada no século XVI. Os artistas, insatisfeitos com
a intensa e rígida imitação da arte clássica, desenvolveram gradualmente novas
formas de expressar a sua criatividade. Rejeitaram, assim, o equilíbrio, a
harmonia, a simplicidade, a proporcionalidade clássicas, em favor do desequilíbrio, da irregularidade, da complexidade,
da sinuosidade (Qualidade ou estado do
que é sinuoso; tortuosidade, curva), da extravagância.
Em geral, costuma-se associar a arte
barroca à ideia de religiosidade, o que é fato. Pode-se afirmar que o Barroco
foi o gênero de arte “encomendado” pela Igreja para despertar novamente nos
fiéis o sentido da fé cristã e o da legitimidade do catolicismo enquanto
expressão da Verdade Religiosa. A vida dos santos e dos mártires da Igreja
Católica serão, por isso, alvo constante do interesse dos artistas. Disso
decorrem características marcantes da arte Barroca: além da referida religiosidade, do apelo às questões espirituais e morais, há a
consciência da brevidade da vida e a
ênfase às ideias de pecado e
necessidade do arrependimento para a salvação da alma. A exaltação da fé e da
vida espiritual leva, frequentemente, à negação
da vida terrena e dos prazeres mundanos, a um recorrente pessimismo diante do mundo. O Barroco
recorre, assim, à grandiosidade e ao esplendor das imagens celestiais, à dramaticidade e ao heroísmo do caráter espiritual, para incutir no homem o anseio
divino.
Dentro do universo temático de
preferência barroca visto acima, é interessante ressaltar o tema da brevidade da vida (também conhecido como
efemeridade, transitoriedade ou fugacidade): o artista e o poeta, conscientes
de que tudo passa e se acaba rapidamente, fazem dois tipos de reflexão e
sugestão: o primeiro de caráter religioso, já apontado antes, exalta uma vida
virtuosa, isenta de pecados, ou marcada pelo arrependimento e voltada para
Deus; curiosamente, o segundo, de caráter lírico-filosófico, reconhece que não
só a vida, mas também a juventude e a
beleza são passageiros, fugazes, e defende, portanto, o que ficou conhecido
como “carpe diem”, ou seja, o aproveitar
dessa mesma vida, juventude e beleza enquanto é tempo, intensamente.
Ideias e atitudes, em princípio,
contraditórias, não? Porém, isso ocorre porque o Barroco é também a arte dos opostos, da contradição, do
conflito, da tensão. O homem renascentista habituara-se a uma visão de
mundo e a uma postura ANTROPOCÊNTRICAS (onde o homem é o centro do universo),
em que a vida humana e terrena eram valorizadas e vivenciadas com prazer, sem
culpa. A Igreja, por meio da Contra-Reforma (entende-se sobretudo por meio da
Inquisição), busca impor novamente uma mentalidade medieval, de negação do
terreno, do carnal, do humano, ou seja, uma visão TEOCÊNTRICA (onde Deus é o
centro do universo). Chocam-se as duas mentalidades e, na tentativa de solução,
o homem barroco busca aproximá-las, conciliá-las, fundi-las, donde resulta a
permanente tensão. Dessa atitude se originam outras marcas barrocas
fundamentais: o dualismo e o fusionismo. A primeira – dualismo –
refere-se ao gosto da contradição,
dos contrastes, à aproximação constante entre elementos opostos: o Céu e a
Terra, o Bem e o Mal, o Sagrado e o Profano, a Alma e o Corpo, o Espiritual e o
Sensual, o Belo e o Feio, o Claro e o Escuro, entre outros. Muitas vezes, tais
elementos aparecem unidos ou fundidos em
um só ser ou ideia: é o chamado fusionismo.
O ABSOLUTISMO MONÁRQUICO, desse
período, incutindo nos seus soberanos a ânsia de exaltação de si mesmos e de
seus reinados, também acabou conduzindo o Barroco para muitas de suas
características mais difundidas hoje: é a arte pintando ou esculpindo a
monarquia através do requinte, da exuberância, da imponência, da opulência, do
gosto pela grandiosidade das formas, imagens e construções, do exagero,
chegando, muitas vezes, aos limites do mau gosto. Nesse sentido, o Barroco tornou-se,
sobretudo, a arte do rebuscamento, do detalhismo, da complexidade, uma arte
ornamental e sensorialista, que apela, antes e acima de tudo, para os nossos
sentidos físicos, impressionando-os e emudecendo-nos pelo impacto visual.
No sentido literário, reconhecem-se
duas tendências estilísticas dentro do Barroco: o cultismo, ou o gosto exagerado pelo aspecto formal do texto e sua
“sinuosidade labiríntica” no tocante ao jogo de palavras, e o conceptismo, que privilegia não o
formal, mas o conteúdo, o pensamento, o jogo de ideias.
Na literatura brasileira, dois nomes
imortalizaram-se dentro da arte barroca: o do grande poeta Gregório de Matos
Guerra e o do padre Antônio Vieira, cujos inúmeros sermões representam o mais
legítimo conceptismo barroco.
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