Sugestão de hoje!!!

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Livro que trata do menor abandonado e de sua luta pela sobrevivência.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A CARTA DE ACHAMENTO DO BRASIL – PERO VAZ DE CAMINHA

Escrivão e navegador português. Autor da célebre carta que informa a descoberta do Brasil ao rei D. Manuel. Nasceu provavelmente na cidade do Porto, filho de Vasco Fernandes de Caminha, cavaleiro do duque de Bragança. Casa-se com dona Catarina e tem uma filha, Isabel.
Em 1476, substitui o pai como mestre de balança da Casa da Moeda portuguesa. Dedica-se ao comércio antes de ser designado escrivão da feitoria (entreposto comercial, geralmente instalado e fortificado pelos portugueses nas zonas costeiras) de Calicute, na Índia, para onde segue com a bem equipada frota de Pedro Álvares Cabral, responsável pelo descobrimento do Brasil em 22 de abril de 1500. A carta em que anuncia o feito ao rei D. Manuel, datada de 1º de maio de 1500, notabiliza-se como o mais importante documento relativo à descoberta do Brasil, pela riqueza de detalhes. Guardada nos arquivos da Torre do Tombo, em Lisboa, ela foi ignorada por mais de três séculos. Foi divulgada pela primeira vez em 1817, no livro Carografia Brasileira, escrito pelo padre Aires de Casal. Ainda em 1500, Caminha continua a viagem para a Índia com Cabral e morre durante um assalto dos mouros (mulçumanos) à feitoria de Calicute.

A carta de Caminha faz um relato fiel dos dias passados na Terra de Vera Cruz (nome antigo do Brasil) em Porto Seguro, da primeira missa, dos índios que subiram a bordo das naus (antigas embarcações à vela), dos costumes destes e da aparência deles (com certa obsessão por suas “vergonhas”). Relata também o potencial da terra, tanto para a mineração (diz-se que não se achou ouro ou prata, mas que os nativos indicam sua existência), exploração biológica (a fauna e a flora) e humana, já que fala sempre em salvar os nativos convertendo-os ao cristianismo.

A linguagem da carta é simples, direta; o texto assemelha-se a um diário de viagem pela riqueza de detalhes. Descreve a terra descoberta e sua gente, além das atitudes dos futuros colonizadores.

Há uma clara intenção exploratória das terras brasileiras, sobretudo em relação às suas possíveis riquezas naturais, decorrente do pensamento mercantilista burguês da época. Além disso, identifica-se um desejo de cristianização do povo indígena, considerado desprovido de espiritualidade e fé.

Percebe-se o espanto do homem branco diante de “outro” ser que lhe causa estranheza. A nudez do índio é enfatizada como demonstração de sua pureza e ingenuidade. O deslumbramento diante da nova terra transmite-nos uma sensação de “visão do paraíso”, que é influenciada por uma mentalidade medieval, de valores essencialmente cristãos.

A primeira visão da nossa terra:
“Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! A saber, primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã [plana], com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera Cruz!”

Descrevendo os índios:
“A feição deles é serem pardos maneiras d’avermelhados de bons rostros e bons narizes bem feitos. Andam nus sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa cobrir nem mostrar suas vergonhas e estão acerca disso com tanta inocência como têm de mostra o rosto.”
“Viu um deles [índios] umas contas de rosário, brancas; acenou que lhas dessem, folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço. Depois tirou-as e enrolou-as no braço e acenava para a terra e de novo para as contas e para o colar do capitão, como dizendo que dariam ouro por aquilo. Isso tomávamos nós por assim o desejarmos.”
“Parece-me gente de tal inocência que, se homem os entendessem e eles a nós, seriam logo cristãos, porque eles, segundo parece, não tem nem entendem nenhuma crença.”

Em relevo, a postura solene de Cabral:
“O capitão quando eles vieram estava assentado em uma cadeira e uma alcatifa aos pés por estrado e bem vertido com um colar d’ouro mui grande ao pescoço.”
Atenuando a impressão de selvageria que certas descrições poderiam dar:
“Eles porém contudo andam muito bem curados e muito limpos e naquilo me parece ainda mais que são como aves ou alimárias monteses que lhes faz o ar melhor pena e melhor cabelo que as mansas, porque os corpos seus são tão limpos e tão gordos e tão fremosos que não pode mais ser.”

A conclusão é edificante:
“De ponta a ponta é toda praia... muito chã e muito fremosa, (...) Nela até agora não pudemos saber que haja ouro nem prata... porém a terra em si é de bons ares assim frios e temperados como os de Entre-Doiro-e-Minho. Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem, porém o melhor fruto que dela se pode fazer me parece que será salvar essa gente e esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar.”

A literatura informativa emprestou muitos de seus temas e formas para períodos literários posteriores, como o romantismo e o Modernismo.

A Carta de Pero Vaz de Caminha, apesar de caracterizar-se mais como um relato, uma crônica de viagem, possui muitas qualidades literárias, as quais influenciaram poetas modernistas como Oswald de Andrade na composição de Pau-Brasil e Mário de Andrade, ao realizar sua glosa (composição poética), em Macunaíma, na “Carta pras Icamiabas”.

Oswald de Andrade realizou a chamada “apropriação parodística”, pois subverteu o sentido original do texto ao recortar as frases da carta e dispô-las de outra maneira. Através desse jogo intertextual, Oswald dialogou com o passado, compondo um texto de nova significação.

Um bom exemplo é o poema a seguir, da obra Pau-Brasil:
“Seguimos outro caminho por esse mar de longo
Até a oitava de Páscoa
Topamos aves
E houvemos vista de terra”

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